A minha irmã é uma pessoa muito especial. Estamos
sempre em sintonia uma com a outra. Mesmo quando acontecem desencontros e não
conseguimos estabelecer uma comunicação física, nossa mente, nossa alma e nosso
coração estão ligados por um belo lanço de amor que nos permite uma comunicação
silenciosa e carinhosa. Transcrevo a mensagem que ela me mandou hoje por
e-mail. Ela representa o respeito por nós mesmos (seres individuais), pelo
outro, pela natureza, pelo mundo e principalmente pelo TODO que é UNO e diverso
ao mesmo tempo. A minha irmã tem o dom de dizer coisas que estou sentindo e às
vezes não consigo trazer para o meu consciente. É preciso esforço para nos mantermos LIVRES e com o coração aberto, pois só assim conseguiremos ver-sentir-entender toda a beleza da VIDA.
Dá-nos um coração aberto a toda esta alegria e a toda esta beleza, e livra as nossas almas da cegueira que vem da preocupação com as coisas da vida e das sombras das paixões, a ponto de passar sem ver e sem ouvir até mesmo quando a sarça, ao lado do caminho, se incendeia com a glória de Deus.
Ó Deus, nós te damos graças por este universo, nosso lar;
pela
sua vastidão e riqueza, pela exuberância da vida que o enche e da qual somos
parte.
Nós te
louvamos pela abóbada celeste e pelos ventos, grávidos de bênçãos, pelas nuvens
que navegam e as constelações, lá no alto.
Nós te
louvamos pelos oceanos, pelas correntes frescas, pelas montanhas que não se
acabam, pelas árvores, pelo capim sob os nossos pés.
Nós te
louvamos pelos nossos sentidos: poder ver o esplendor da manhã, ouvir as
canções dos namorados, sentir o hálito bom das flores da primavera.
Dá-nos, rogamos-te, um coração
aberto a toda esta alegria e a toda esta beleza, e livra as nossas almas da
cegueira que vem da preocupação com as coisas da vida e das sombras das
paixões, a ponto de passar sem ver e sem ouvir até mesmo quando a sarça, ao
lado do caminho, se incendeia com a glória de Deus. Alarga em nós o senso de comunhão com todas
as coisas vivas, nossas irmãs, a quem deste esta terra por lar, juntamente conosco.
Lembramo-nos,
com vergonha, de que no passado aproveitamos do nosso maior domínio e dele
fizemos uso com crueldade sem limites, tanto assim que a voz da terra, que
deveria ter subido a ti numa canção, tornou-se um gemido de dor.
Que
aprendamos que as coisas vivas não vivem só para nós; que elas vivem para si
mesmas e para ti, que elas amam a doçura da vida tanto quanto nós, e te servem,
no seu lugar, melhor que nós no nosso.
Quando
chegar o nosso fim, e não mais pudermos fazer uso deste mundo, e tivermos de
dar nosso lugar a outros, que não deixemos coisa alguma destruída pela nossa
ambição ou deformada ela nossa ignorância.
Mas que passemos adiante nossa herança comum mais
bela e mais doce, sem que lhe tenha sido tirado nada da sua fertilidade e
alegria, e assim nossos corpos possam retornar em paz para o ventre da grande
mãe que os nutriu e os nossos espíritos possam gozar da vida perfeita em ti.(Do livro Orações por um mundo melhor, PAULUS, 1997.)
Rubem Alves
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