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Philip N. Howard, (Montreal, Canadá, 1970) é um
sociólogo, professor, pesquisador e escritor. Escreveu numerosos artigos de
pesquisa empírica sobre o uso de mídias digitais para o engajamento cívico e
controle social em países ao redor do mundo. Ele é professor titular de Estudos
da Internet, no Oxford Internet Institute, e membro sênior do Balliol College,
da Universidade de Oxford. Faz parte do corpo docente do Departamento de
Comunicação, da Universidade de Washington, além de membro do Tow Center for
Digital Journalism, da Universidade de Columbia. Mantém nomeações acadêmicas
sênior nas universidades de Stanford, de Princeton, e de Columbia. De 2013 a
2015 ajudou a projetar e lançar a Escola de Políticas Pública, na Universidade
da Europa central, em Budapeste. Recentemente recebeu o Prêmio Consolidator do Conselho Europeu de
Pesquisa, pelo seu estudo de algoritmos e vida pública. Seus projetos sobre
ativismo digital, acesso à informação e governança moderna tanto em democracias
quanto em regimes autoritários foram apoiados pela Fundação Nacional de
Ciência, Institutos da Paz, dos EUA e Grupo de Pessoas e Práticas, da Intel.
Ele publicou oito livros e mais de 100 artigos acadêmicos, capítulos de livros,
conferências e ensaios de comentários sobre tecnologia da informação, assuntos
internacionais e vida pública. Sua pesquisa abrange várias disciplinas, e ele
está entre um pequeno número de estudiosos que ganharam prêmios de todas as
três principais associações acadêmicas por seu trabalho em ciência política,
sociologia e comunicação. Ele é o autor, mais recentemente, da Pax Technica:
Como a Internet das coisas pode nos libertar ou nos aprisionar.
Neste livro Howard (2015) visa levantar o impacto
político de ter tudo e todos conectados via rede. Enquanto a tecnologia se
desenvolve e uma gama de dispositivos (TV, geladeiras, cafeteiras, etc) passam
a fazer parte desse desenvolvimento e conexão via rede, muitos de nós mal
percebemos o poder que esses objetos têm de enviar e receber informações (logs).
Estima-se que até 2020 teremos 26 bilhões de aparelhos com capacidade para
processar (receber/enviar) informações, sendo que um bilhão deles serão
computadores, tablets e smartphones. Howard (2015) acredita que a Internet
libertou algumas sociedades, mas em outros casos ela foi utilizada para
aprisionamento através de censura e vigilância. Ele não quer fazer deste livro
uma previsão, mas uma presciência. A Internet pode ser uma das coisas mais
eficazes em vigilância que já tivemos. Por outro lado, pode ser também um
excelente veículo de engajamento cívico no desenvolvimento de sociedades mais
abertas e livres.
O livro Pax Techica está organizado em sete
capítulos assim distribuídos: O primeiro mostra o império das coisas conectadas;
O segundo trata sobre o interregno da Internet; No terceiro Howard (2015)
aborda os novos mapas para o novo mundo; O quarto capítulo é dedicado a
descrever as cinco premissas da Pax Technica; No quinto Howard (2015) nos
mostra quais as cinco consequências da Pax Techica; O sexto capítulo é sobre
concorrência em Rede e seus desafios; O sétimo e último capitulo visar mostrar
como é construída uma Democracia com nossos próprios dispositivos. Segue resumo
das principais ideias abordadas por Howard (2015).
No império das coisas conectadas, de acordo com Howard (2015), as redes servem
para nos proteger, mas quando não precisamos de proteção, podem servir para os
governos nos vigiarem. Howard (2015) descreve as seguintes pax:
- Pax Romana: Longo período de estabilidade instaurado por César Augusto. Esta poderosa infraestrutura e exército conquistaram muito além da Itália, como Europa Ocidental, Oriente e Norte da África. As trocas econômicas desse período duraram mais de 200 anos. Vale ressaltar que a infraestrutura da Pax Romana tinha seus limites, uma vez que não alcançava a todos da mesma maneira. No entanto, Roma era a confluência das redes de poder e o nó dessa rede, pois detinha a infraestrutura.
- Pax Britânica: Londres representa o centro do poder para o Império Britânico. A Pax Britânica compreendeu período entre as Guerras Napoleônicas e a 1° Guerra Mundial. Durante esta pax a Inglaterra detinha o controle econômico, marítimo, político, cultural, etc. Este período não foi considerado de paz, mas de controle e estabilidade marcado por um desenvolvimento desigual.
- Pax Americana: Este período começou à partir da 2° Guerra Mundial, no qual os EUA deteve controle político e econômico de outros países para seu próprio benefício. Nesta pax elementos culturais (filmes de Hollywood, programas de TV, propaganda, etc) criaram grande impacto em termos de valor. Por muitos anos os EUA foram o centro da Internet mundial. De 1990 à 2000 toda informação dessa rede passava por eles. Atualmente, quem quiser ter um papel na política moderna, moda, ou no mundo corporativo, precisa de um perfil online. Harold Innis e Marshall Mac Luhan, nos ensinaram que não é somente através de armas que se muda o centro do poder político. Novas mídias de comunicação criaram espaço para a dominação cultural. Ainda que atualmente os EUA tenha estabelecido acordos com empresas como Google, Apple, Vale do Silício, Microsoft, perdeu o controle dos projetos digitais de maneira importante. A Internet não fala mais “somente inglês”. De acordo com Howard (2015) é bem provável que a Pax Americana tenha acabado.
Para Howard (2015) nova ordem mundial traz questionamentos
sobre o controle dos EUA no fluxo de informações e política, a queda do Muro de
Berlim e o fim da União Soviética. Estamos em transição para o quê e para onde?
Alguns argumentaram que o fim do mundo
bipolar representaria um mundo onde se dará maior importância para questões
econômicas, políticas e de segurança do que para as questões ideológicas. No
entanto, é complexo definir a Nova Ordem Mundial. Antes de qualquer coisa, é necessário
definir o que é poder nos dias atuais, quem tem e o que significa exercitá-lo. O
poder de influenciar situações (Clout) está na mão de quem produz
conteúdo para as mídias digitais. Além disso, também é difícil definir qual
país tem esse tipo de poder hoje em dia. Sabemos que os EUA e o Silicon Alley,
produzem conteúdo digital e o Vale do Silício produzem novos “gizmos” (gadgets).
Existem agências de controle que estão sempre suscetíveis ao controle de
grandes corporações. A Agência Nacional de Segurança (NSA), dos EUA tem
capacidade de controlar o tráfego da Internet de maneira considerável. Por
outro lado, existem também os insurgentes (The Pirate Bay e Wikileaks). Uma vez
por mês algum governo tem que se explicar sobre um vazamento de hacker. Além
disso, embora com menor “Know How”
técnico, pessoas comuns contestam o governo com filmagens de policiais
abusivos, tirando sua credibilidade.
Segundo Howard
(2015), Edward Snowden nos ensinou duas lições: a) Que o governo não faz mágica
para descobrir todos os seus segredos. b) Que a maior parte dos serviços de
informação tecnológica são contratados por firmas privadas. Meta Dados, gerados
pelos mecanismos de pesquisa ajudam analistas a fazer inferências sobre o
comportamento das pessoas, ou seja, através deles é possível mapear quem você é
ou quem você conhece. No entanto, a denúncia de Snowden deixou claro que a
questão da descoberta de informações sigilosas é mais uma questão de pressão
que a NSA faz para obter essas informações das empresas do que um problema da
tecnologia. Neste caso, o governo não só falhou em regular “Data Miners”, como
a compra de informações deles. Antes de Snowden, essa prática era mais comum. Recentemente
uma série de empresas fizeram declarações públicas sobre os pedidos de
informações feitos por agências governamentais. Se Snowden é um traidor ou não,
o fato é que ele deixou clara a vigilância “high
tech” dos governos e pior ainda, das empresas de tecnologia que conspiram e
criam novas maneiras de cooperar com o governo. Invadir o computador dos nossos
oponentes não é somente mais uma estratégia antipropaganda, e rastrear pessoas
através do celular não é mais um método passivo de vigilância.
Howard
(2015) nos mostra que cada novo aplicativo parece nos expor a novos riscos. Chegamos
a uma era de verdadeiras incertezas, um tipo de “interregno”. Uma nova ordem
mundial de pessoas e aparelhos emergiu da incerteza dessa transição tecnológica.
Atualmente, o “ouro” não é mais o padrão. Desde 1930 a economia se
industrializou a tal ponto que a maneira de julgar a riqueza de um país se
diversificou para além do padrão ouro. Atualmente, a quantidade de ouro que um
governo soberano possui não tem muito a ver com a maneira de avaliar esse
governo em termos de estabilidade econômica. A Tecnologia e informação passaram
a ter um valor maior de troca. Patentes e PhDs passaram a ser indicadores de
riqueza nos países. Esse novo senso de valoração é que leva ao surpreendente
crescimento das moedas virtuais feitas para “libertar” o dinheiro, ou
abstratamente valorizar o controle de um banco central em um país específico.
Howard (2015) nos chama a atenção, segundo ele, até
2020 o mundo vai ter quase oito bilhões de pessoas e por volta de 30 bilhões de
aparelhos. O que quer dizer muita política de controle e inteligência gerada por
aparelhos ou agentes autônomos? Se nossa cultura não se parece com uma coleção
Vesphaliana de estados distintos da Internet, talvez a metáfora do feudalismo
seja mais correta, pois estamos cada vez mais presos a um pequeno grupo de
grandes companhias que detêm nossa informação. No entanto, ainda há força na
sociedade civil para controlar esse avanço. Existem alternativas como Firefox e
Apache. Precisamos desenvolver uma política pública para garantir que a Internet
nos sirva de maneira apropriada. Precisamos mapear a nova ordem mundial da Pax
Tecnica. Que tipos de mapas nós precisamos para entender a nova ordem mundial? Mapas
são surpreendentemente enganosos quanto à conexão das pessoas e suas
identidades. Mídias sociais, softwares livres e a Internet das coisas estão
ajudando as pessoas a criar seus próprios mapas e suas identidades políticas.
Para Howard (2015), organizar pessoas em uma região
não democrática é complexo e difícil. Não ter um governo reconhecido pelo povo
torna difícil a colaboração para resolver problemas. No entanto, o governo não
é a única fonte de governança. Os ditadores atuais estão envelhecendo e o resto
da população ficando mais jovem. Qual a relação entre ditadores envelhecendo,
governos mal formados e a Internet? A Internet e telefones celulares permitiram
a conexão com países vizinhos mostrando alternativas a políticas autoritárias. Howard
(2015) nos apresenta o conceito de democracia dos dispositivos. De acordo com
ele, cidadãos e legisladores já estão usando redes de dispositivos através das
mídias sociais e “Big Data” para derrubar muitas redes e governos ilegais. Pessoas
fazendo mais por si mesmas através de mídias sociais e dos celulares. Elas fazem
suas próprias notícias, falam sobre corrupção e poluição. A tecnologia está
permitindo novos tipos de governança, mas não substituíram completamente as
agências governamentais. As pessoas usam mídias sociais para cobrar e reparar
instituições quebradas.
Segundo Howard (2015) a Pax Romana e Britânica
construíram infraestruturas estáveis e sociedades prósperas ligando territórios
através de redes de estradas, laços familiares e rotas comerciais. Para ele a Internet das coisas terá papel
semelhante. Inclusive, já está fornecendo algumas condutas palpáveis para o
poder político. A Internet tem recursos que defensores da privacidade não
gostam, mas a capacidade de resolução de problemas e os benefícios de segurança
superam os riscos. O grande desafio da Internet das Coisas é fazer com que as
agências de segurança, como por exemplo, a NSA, se comportem com
responsabilidade.
Howard (2015) define
cinco premissas para a Pax Technica:
- Líderes políticos, governos, empresas e grupos cívicos estão usando a Internet para atacar uns aos outros e defender seus interesses.
- Os cidadãos estão utilizando a Internet para melhorar a governança. O sucesso/fracasso de um governo depende cada vez mais de uma boa estratégia digital.
- Pessoas estão usando a Internet para marginalizar ideias extremistas. Governos autoritários perdem credibilidade quando tentam reprimir novas tecnologias da informação.
- As pessoas estão usando meios digitais para resolver problemas de ação coletiva.
- As pessoas estão usando Big Data para ajudar a fornecer segurança conectiva.2
Howard (2015) mostrar
como a Internet das Coisas (Internet of Things - IoT) ajuda a explicar essas
cinco premissas:
- Internet das coisas como arma: A IoT está sendo utilizada como ferramenta de vigilância e controle; Dispositivos com sensores e conexão de rede podem ser usados para atacar e rastrear dissidentes; Dispositivos podem ser alvos, tanto quanto as pessoas; Estratégia militar incluída na estratégia de mídia; Uso de drones por militares; A IoT e a capacidade de manipular dispositivos é a característica do conflito político moderno. Países gastam cada mais vez em infraestruturas de informação para vigiar suas populações e desestabilizar a infraestrutura inimiga.
- Pessoas usam dispositivos para governar: A IoT fornecerá governança quando o estado falhar; Qualquer pessoa pode criar e compartilhar mapas, executar pesquisas de opinião pública, usar celulares para relatar crises; Líderes manipulam a mídia digital para se salvarem/manterem no poder; O uso de dispositivos permite expor e combater a corrupção e ter mais transparência no governo.
- Redes digitais enfraquecem ideologias: As novas tecnologias da informação minam ideologias radicais; Imagens são poderosas, pois elas podem fortalecer ou dissolver a autoridade e ideologia política; A nova ideologia é a ideologia da própria tecnologia; IoT está se tornando um tipo de pacote ideológico; “Informacionalismo“(Castells); boom ponto-com; Startups; Batalhas ideológicas online: em Redes Sociais, microblogs, memes; É através das decisões sobre política de tecnologia que governos revelam seu compromisso com a democracia. Ter Twitter e site interativo ajuda a se conectar com os eleitores; Por outro lado, expulsar o extremismo violento das conversas políticas pode fazer algumas pequenas redes crescerem. Mas, a Internet ajuda a rastrear e desativar essas redes quando elas se tornam uma ameaça; Uma característica que define uma crise é o momento em que um governante ordena o bloqueio da Internet. Os observadores informam instantaneamente quando o tráfego de pacotes digitais de uma nação é interrompido e o país "escurece"; Quando um governo gastar dinheiro em tecnologias que tornam a governança mais transparente, devemos celebrar. No entanto, quando um governo decidir que precisa fazer mais censura e vigilância, devemos nos preocupar.
- Mídias sociais resolvem problemas coletivos: IoT vai aprofundar nossa capacidade de coordenar ação coletiva; Os tipos de problemas que podemos resolver são diversos (escassez de água, poluição até necessidades de saúde pública e direitos humanos); Alguns desses problemas são abordados nos hackathons, outros em mídias sociais e codificação criativa; O que torna um governo autoritário é que alguém provavelmente o vigiará e punirá pela sua participação em protestos. Muitos morrem nas mãos de oficiais de segurança do governo. Atualmente, cada vez mais pessoas documentam o sofrimento de seus entes queridos neste contexto; Tecnologias que permitem documentar falhas do governo ajudam as pessoas a avaliar os custos e benefícios da ação coletiva de diferentes maneiras. Tomar as ruas já não é mais um comportamento arriscado. Ficar em casa e não fazer nada é que é um risco. O cosmopolitismo digital é impulsionado por um problema social e pelas tecnologias que coordenam as soluções. Pessoas aprenderão, se adaptarão, pedirão ajuda e construirão uma comunidade, se o problema social valer a pena resolver.
- Big Data apoia a segurança humana: IoT irá gera Big Data que são medidos em terabytes, petabytes; Há 75 bilhões de apps baixados; Em média 38 apps por smartphone dão um “ping” num servidor 3 vezes ao dia, a rede gera 226 bilhões de pontos de localização; Respeitosamente coletados, esses dados ajudam a prover segurança.
Howard (2015) lista cinco consequências da Pax Technica:
- Os principais governos e empresas irão resistir em punir danos reais às redes de dispositivos rivais, por medo das consequências. Perspectivas de [cyberwar] diminui à medida que a IoT se espalha.
- Comunidades serão capazes de substituir governos que falham com arranjos institucionais por opções que fornecem “bens de governança” através da IoT.
- As fissuras primárias da política global estarão entre as redes de dispositivos rivais e padrões de tecnologia e os ecossistemas de mídia que constroem a IoT. Competição entre redes abertas/fechadas e entre dispositivos
- As pessoas usarão a IoT para ação conjunta [cripto-clans] organizados em redes de confiança e reciprocidade mediadas por seus dispositivos.
- As pessoas vão procurar mais formas de usar redes de dispositivos para melhorar a segurança humana.
Na visão de Howard
(2015) ser um cidadão ativo do império
dos bist significa participar da vida política através dos dispositivos. Mesmo
aqueles sem dispositivos têm impacto porque os dados sobre suas vidas
econômicas, culturais e sociais alimentam conversas políticas. Seu
comportamento, uma vez que interagem com a Internet das coisas, também gera
dados. Como impérios ao longo da história, há também desigualdades
persistentes. Em partes ricas, a Internet é rápida, as conexões de telefones
móveis são confiáveis e a Internet das coisas está transmitindo informações
úteis sem comprometer a privacidade. A economia da informação global se
acumulam nesses bairros ricos. Em outros lugares a infraestrutura é um pouco
mais velha, e os possíveis benefícios de saúde e bem-estar chegam
desigualmente. Os habitantes tem que aguentar a vigilância de empresas de
marketing, lobistas políticos, acadêmicos e serviços de segurança nacional. Nem
tudo que esse império produz é desejado. Cada dia é gerado mais spam,
pornografia, discurso de ódio e ideias ruins. Às vezes parece um império da
anarquia, mas isso não significa que não haja líderes ocasionais, momentos de
consenso. As opiniões dos habitantes importam, pois podem fazer ou quebrar uma
corporação ou um movimento político. As equipes temporárias se formam, e quando
são motivadas a agir podem ter impacto enormes na nossa cultura, negócios ou
política. No entanto, Howard (2015) alerta que o poder reside na definição de padrões técnicos e protocolos abertos.
Segundo
Howard (2015) a rede de dispositivos
capaz de transmitir informações vai se expandir. Quais são as ameaças? Que atores
têm a capacidade de limitar ou enfraquecer a Pax Technica? A Internet das
coisas traz estrutura para a política global, mas o desafio é moldar esta
estrutura. Na visão dele há duas
redes que ameaçam a Pax Technica: a Internet chinesa e a Internet fechada. Howard
(2015) vislumbra que a Internet das
coisas será a ferramenta política mais poderosa em breve. Pois muda a maneira
de ser político. Por isto, é preciso ter cuidado com a gestão de informação que
nos chega. Programar ou ser programado. Redes abertas evoluem em oposição às
fechadas, há compartilhamento de conteúdo, rápida comunicação, fácil resolução
de problemas. O DRM é um risco de tornar a Internet cheia de limitações e
bloqueios. Há o risco também de que proprietários das infraestruturas em uma
rede digital favoreçam determinados conteúdos com privilégios em velocidade ou
armazenamento fazendo com a Internet gere desigualdades.
Para Howard
(2015) na Pax Technica, os próximos
conflitos não serão feitos por militares, mas por corporações pela escolha de
uma infraestrutura de rede aberta e de comunicação livre ou fechada e limitada.
As mídias sociais permitem que manifestantes sociais façam protestos não
violentos, construam meios de confiança e reciprocidade para o envolvimento
coletivo. Big Data deve trazer informações sobre ameaças públicas e soluções
para o nosso bem-estar. A Coalizão de governos ocidentais e empresas de
tecnologia controlam a maior parte da infraestrutura da informação do mundo, ainda
assim, governos e empresas não podem decidir sozinhos as normas da Internet. A
definição de normas para as tecnologias da informação torna-se o domínio de uma
política que a longo prazo afetará todas as outras: saúde, meio ambiente, ação
política. Líderes de todos os tipos sabem do poder da tecnologia nos resultados
políticos, de modo que trabalham para estabelecer os padrões que lhes
interessam. A Internet das coisas fornecerá em breve uma estrutura política. Empresas
de tecnologia se tornarão árbitros dos direitos das pessoas. Daí a importância
da Internet como direito humano básico: direito à informação. Por isso a Internet
das coisas deve ter uma função pública: com ela cada vez mais presente, os
dispositivos não devem ser apenas para melhorar produtos, mas para melhorar a
qualidade de vida.
Howard
(2015) alerta para o fato que empresas
e agências governamentais violam direitos humanos, abusam do cidadão,
ultrapassam os limites de autoridade. Por isso depende-se da ação dos hackers
para seu monitoramento. Para líderes políticos e empresas, muitas vezes, esses
hackers são ameaças para a segurança nacional, mas em muitas redes são heróis
por trazerem à público informações secretas de utilidade pública. Mesmos as
punições a esses denunciantes, logo são denunciadas nas redes. Mídias sociais
se tornam lugares de altruísmo e desse novo tipo de ação política. Neste
contexto, explica Howard (2015), os cientistas sociais precisam usar as mídias digitais como ferramenta e como
objeto de pesquisa. Buscar novas categorias de análise para não se tornar
obsoleto. As categorias antigas são muito abrangentes, não refletem as nuances
sociais, diferente das redes de dispositivos. Cientistas sociais são treinados
para ver Estados-Nações como sistemas representativos, modelos de governos
definidos pela relação entre pessoas. Ao invés disso, eles precisam perceber o
mundo atual como um sistema de relação entre pessoas e dispositivos. O direito
sob os dados que você deixa em dispositivos de redes será um dos mais
importantes objetivos da liberdade civil. Se o cidadão não lutar por isso, as
empresas e governos definirão os limites.
Na visão de Howard
(2015), a Internet das coisas pode se
tornar uma infraestrutura cívica robusta. Deve ser uma rede de dispositivos de
fonte aberta, fácil para o usuário entender, localmente gerenciada e eticamente
compartilhada. Cada usuário deve exercer seu papel: buscar maior privacidade e
controle de seus dados; saber usar os dispositivos e configurações, julgando a
empresa fornecedora. Por isso, a tendência, segundo ele, é aumentar o número de pessoas conectadas à
dispositivos, dados. Sairão em vantagem os que melhor dominarem essas
tecnologias. A Internet das coisas é um meio de retorno crescente: o número de
pessoas e dispositivos conectados estipula seu valor. Tem mais força de ação.
Isso influencia diretamente no fato de que o engajamento cívico se tornou uma
experiência em rede. Os dispositivos fazem grande parte do trabalho
representativo da política. Daí a importância dos cientistas sociais se
atentarem nesta ferramenta e alterarem suas estruturas analíticas. Política é o
que acontece quando seus dispositivos representam você no Pax Technica.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
HOWARD, Philip N. Pax Technica: How the Internet of things may set us
free or lock us up. Yale University Press, 2015.
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