Esses
dias zapeando os canais de TV encontrei um documentário muito interessante, no
Canal Arte1, que prendeu minha atenção do inicio ao fim. Não só por ser um
documentário brasileiro, mas por tratar do transtorno bipolar. Convivo
com o transtorno bipolar de perto, e por isso sei o quanto uma pessoa bipolar sofre.
Minha irmã do meio, foi diagnosticada com transtorno bipolar aos 20 anos. Desde
então, ela tem passado por experiências bem complicadas. A convivência com uma
pessoa bipolar requer muita paciência, compreensão e principalmente amor.
Infelizmente
o preconceito e a falta de informação tornam essa doença ainda mais difícil.
Por este motivo o Estrambólica Arte que abordar este tema, e procurar mostrar
que com amor e entendimento do problema é possível conviver em harmonia com pessoas
bipolares. É imprescindível um acompanhamento médico especializado. Quando se
tem um tratamento adequado, com muita força de vontade e incentivo, é possível
aprender a lidar com a doença e ter uma vida sem tanto sofrimento. Para saber mais sobre o
transtorno bipolar clique aqui e acesse o site da
Associação Brasileira do Transtorno Bipolar.
Foi
por conta desta minha experiência pessoal que me emocionei com o documentário,
"Josephine King". O documentário mostra a trajetória da britânica, Josephine
King, uma “pintora bipolar” que aos 30 anos de idade, foi diagnosticada com esta doença. Aos 40, após mais uma tentativa de suicídio, começou a pintar uma
serie de auto-retratos, nos quais escancarava todo seu sofrimento. O resultado
desse trabalho é assustador. Cores fortes, roupas extravagantes, cabelo
desgrenhado, olhos borrados. Hoje,
aos 45 anos, Josephine King, começa a ganhar notoriedade e repercussão. Sua
pintura, seu talento, são o que a mantém viva. Rodado nas cidades de Londres,
Amsterdã, Lisboa, Paris e Saint-Gervazy, o filme procura refazer o percurso da
artista ao filmar os lugares onde ela viveu, cresceu, estudou e trabalhou. Para
visualizar o trailer do documentário clique aqui.
Escolhi
o termo “pintora bipolar” ao invés de “bipolar pintora”, para enfatizar através
da ordem dessas palavras a arte e o talento de Josephine e a sua criatividade
para retratar seu sofrimento com a bipolaridade. Josephine fez do transtorno
bipolar a inspiração para criar sua obra, retrata de forma intensa as
oscilações de humor, euforia e depressão. Trouxe para o exterior todo o seu
conturbado e caótico interior.
Segue
abaixo a tradução que eu fiz de um texto, onde Josephine, fala sobre ela, sua arte e a bipolaridade.
Para ler o original, em inglês, clique aqui.
“Este é um assunto
triste e terrível, e o fato de que ela o tem mostrado através de imagens tanto
lúdicas quanto infantis, o torna ainda mais assustador". Paula Rego, amiga
de Josephine, sobre o seu trabalho.
Minha pintura é algo que
eu realmente tive que reter. Os retratos para esta exposição (realizada em
Londres) levou quatro anos para serem feitos. Eu estava muito doente quando comecei
a fazê-los e não estava realmente em um estado adequado para expor ou planejar
nada. Eu só queria fazê-los. Era como um trem. Por cerca de quatro anos, eu
estava apenas fazendo-os porque eu queria e não estava pensando em mostrá-los.
De certa forma eu pinto
para tratar minha doença. Eu cometi uma tentativa de suicídio terrível e a
única coisa que me arrastou para fora desses diversos tipos de estados era me manter
pintando. Então, pela primeira vez na minha vida, eu me virei para o meu interior.
Antes eu pintava coisas mais figurativas, como telhados, meus cães, pessoas,
lugares, viagens - todos os tipos de coisas diferentes.
Devido eu ter passado
por uma experiência devastadora, eu, naturalmente, comecei a pintar de dentro
de mim, os meus próprios sentimentos. Isso significava fazer auto-retratos.
Comecei a adição de texto em torno das bordas, porque era a única e melhor
forma, de explicar os meus sentimentos sobre tudo o que tinha acontecido. As
pinturas tornaram-se como um diário de mim mesmo.
Por seis meses, em 1990,
fui modelo para Paula Rego. Eu fui modelada em três de suas pinturas. Também
tivemos uma espécie de amizade, porque eu estava morando em Lisboa e ela estava
lá há muito tempo. Ambas mostramos a nossa arte em azulejos na mesma galeria.
Nós nos conhecemos há muito tempo. Fiquei muito satisfeita com o que ela
escreveu sobre mim (na citação acima), porque eu acho que ela foi honesta sobre
isso. Eu não acho que ela teria dito nada se ela não gostasse do meu trabalho.
Eu tenho pintado por 25
anos, então suponho que durante todo esse tempo você constrói uma técnica
própria. Tornei-me, através da prática, muito boa eu suponho. Eu tento manter
as cores muito puras. É tudo pré-pensado. Eu disponho as cores em camadas para
obter o efeito máximo. Isso não é feito simplesmente por acaso. As cores tem
que estar no esmalte certo de acordo com a imagem. Eu desenho muito, também. O
desenho é a primeira coisa que eu faço e, em seguida, a cor.
Comentários